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Este documento discute a interconexão entre a consciência cósmica, astronomia e psicologia transpessoal. Ele aborda a importância de expandir a consciência para níveis elevados, além da dualidade espaço-tempo, e como isso pode nos dar novo significado às limitações do nosso planeta e nossa responsabilidade pela biosfera. O texto também apresenta a abordagem antropológica no ensino de astronomia e seu papel na promoção de mudanças na visão de mundo dos educadores.
O que você vai aprender
Tipologia: Notas de aula
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c) experiências arquetípicas, aquelas correlacionadas com a idéia de inconsciente coletivo de Jung, constituindo-se por símbolos universais da experiência humana, imagens primordiais ou arquétipos; e d) as vivências de existências anteriores, que transcendem a vida atual do sujeito e são constituídas por experiências com conteúdos de forte teor emocional que reportam a outro tempo e lugar, extrapolando a biologia e a genética, dando ao sujeito uma compreensão da evolução através das sucessivas existências. Inconsciente filogenético: envolve experiências além das formas humanas, da própria seqüência evolutiva do planeta terra, tanto orgânicas como inorgânicas. Tais vivências podem vir acompanhadas por mudanças nos reflexos neurológicos e por fenômenos motores anormais, que parecem estar relacionados com a ativação das redes nervosas arcaicas. Inconsciente extraterreno: estado de consciência que se estende para além do planeta, por exemplo, experiência de estar fora do corpo, e encontros com entes queridos em outras dimensões. Aqui se incluem os fenômenos de percepção extra-sensorial, como clarividência e telepatia, entre outros amplamente estudados pela parapsicologia e atual conscienciologia^3. Superconsciente: denominado por outros autores como supraconsciente, este nível se caracteriza pela percepção ampla da realidade e apreensão intuitiva do fenômeno da unidade e da relação homem-cosmo. Vácuo: estado além de qualquer conteúdo, além do tempo e do espaço, que transcende toda a dualidade, correspondente ao nirvana, na filosofia budista, ou à cosmoconsciência, na conscienciologia. É importante lembrar que no nosso psiquismo esses níveis de consciência e seus conteúdos interagem num todo complexo e interligado. Muitas vezes se interpenetram ou são experienciados em frações de segundo, demonstrando que consciente e inconsciente são dimensões de uma mesma realidade.
3.3.1 Consciência Cósmica
Dentro deste espectro dos estados de consciência estudados pela psicologia transpessoal, identificamos o estado da consciência cósmica e suas implicações na relação ser humano-cosmo como elemento de interseção com os conteúdos de astronomia, a serem
(^3) Conscienciologia é uma neociência fundamentada no paradigma consciencial, que pesquisa a consciência de forma integral, com vários corpos interagindo energeticamente em múltiplas dimensões, dentro de um ciclo multiexistencial.
adaptados e inseridos na formação de professores, como um poderoso agente de possíveis mudanças na visão de mundo e de valores dos educadores em questão. O termo consciência cósmica traduz uma experiência onde o sujeito vivencia um senso de profunda unidade com o universo, percebendo-se como parte indissociável do mesmo. Observando os relatos de quem já vivenciou esta experiência, constata-se um enorme potencial autotransformador no que diz respeito aos princípios e valores pessoais. Na definição de Weil (1989, p. 19), consciência cósmica trata-se de:
[...] uma experiência em que determinadas pessoas percebem a unidade do cosmos, se percebem dentro dela (e não fora, como muitos poderiam imaginar), a experiência é acompanhada de sentimentos de profunda paz, plenitude, amor a todos os seres. Compreende-se de um relance o funcionamento e a razão de ser dos universos, a relatividade das três dimensões do tempo e do espaço, a insignificância e ilusão do mundo em que vivemos, os erros monumentais cometidos por muitos seres humanos; uma iluminação acompanha muitas destas percepções. A morte é vista apenas como uma passagem para outra espécie de existência e o medo dela desaparece totalmente. Ela pode ser e é, em geral o resultado de uma longa e lenta evolução; às vezes no entanto, ela constitui o início de uma profunda transformação no sentido dos valores mais elevados da humanidade; neste último caso ela acontece em momento inesperado.
Grof (1994 apud SALDANHA, 1997, p. 52) define a consciência como “a expressão e reflexo de uma inteligência cósmica que permeia todo o universo e toda a existência. Somos campos ilimitados de consciência, transcendendo tempo, espaço, matéria e causalidade linear.” O cerne da psicologia transpessoal é a vivência da unidade cósmica como algo desejável e curativo. Para se ter esta vivência faz-se necessário mudar de um estado de consciência de vigília ordinária, onde geralmente não somos capazes de experienciar esta interdependência ou interconectividade, para um estado de consciência ampliado, onde a visão do eu, separado do ambiente, tende a ser transcendida, dando lugar a uma cosmovisão que integra o microcosmo ao macrocosmo. Neste sentido, elevar o estado de consciência representa condição sine qua non para se experienciar a realidade da unidade com o universo. A compreensão dos conteúdos de astronomia requer uma capacidade de abstração e de se colocar além da nossa perspectiva pessoal e planetária. Este exercício, ao nosso ver, favorece a ampliação da visão de mundo, que, aliado às práticas de psicologia transpessoal, propicia condições para que o sujeito vivencie um estado elevado de consciência capaz de promover a emergência de insights, intuições e descobertas sobre este estado de interdependência existente entre todas as coisas
Aqui se propõe uma ampliação da visão de mundo numa perspectiva cósmica. Entendemos que quando o nosso referencial é ampliado, sai do nosso “umbigo”, do nosso bairro, da nossa cidade, país, continente, planeta, galáxia, etc., há uma tendência a minimizarmos as diferenças, preconceitos, e a desenvolvermos uma atitude mais universalista e solidária. Conseqüentemente, tomamos consciência que não só estamos influenciando o nosso lar, o nosso trabalho, mas todo o planeta e todo o universo. Ou também, se recorrermos a uma leitura mediada por conceitos de física moderna atualmente aceitos para uma modelização de muitos aspectos fundamentais da realidade, podemos interpretar que tudo está interligado de acordo com a realidade energética proposta pela física quântica. O conteúdo deste trecho retirado dos PCN teve ressonância com algumas idéias que haviam me ocorrido há alguns anos, quando participei de um minicurso em cosmologia chamado O universo em que vivemos 4. Durante aquele curso, foram abordados temas como nascimento das estrelas, galáxias, buracos negros, origem do universo, tempo de vida do sol, entre outros. A escala das grandezas e dimensões macrocósmicas proporcionou uma expansão da visão de universo, antes limitada por uma perspectiva desde a terra. A partir de então, percebi o potencial de tais conteúdos de astronomia em proporcionar uma ampliação da visão de mundo, de meio ambiente e da conseqüente responsabilidade pessoal frente aos problemas globais, na medida em que a pessoa se percebe de modo mais integrado no universo. Nesta ocasião, apareceram para mim as primeiras associações entre psicologia transpessoal e astronomia, bem como a curiosidade em investigar a interface entre estas duas áreas do conhecimento e aplicá-la em educação, visando potenciais mudanças na visão de mundo dos educadores e conseqüentes mudanças de valores. À medida que começamos a relacionar temas de astronomia com vivências de psicologia transpessoal e a vivenciá-las com os alunos, naturalmente esta prática foi remetida para o termo cosmoeducação. Esta palavra traduz bastante a nossa proposta de que através do conhecimento do cosmo (astronomia) e da conscientização de que fazemos parte deste (psicologia transpessoal), é possível desenvolver o senso cosmológico, que, em última instância, nos faz sentir um só com o universo.
(^4) Minicurso com carga horária de 6 horas, ministrado por professores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), durante a 50ª Reunião Anual da SBPC, realizada de 12 a 17 de julho de 1998, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Astronomia constitui uma sub-área da física, que trata da posição, movimentos, constituição e evolução dos astros. Em outras palavras, estuda as coisas do céu do ponto de vista exclusivamente científico, isto é, de sua constituição material-energética quantitativamente falando, conforme o conhecimento construído através da ciência (ocidental) foi se caracterizando. Através desta área do saber acessamos informações sobre as dimensões do universo conhecido e tentamos inferir previsões sobre sua parte desconhecida. A tentativa de compreendermos estes conteúdos exige de nós uma capacidade de abstração que normalmente nos transporta para domínios incomuns de nossa imaginação, promovendo, quase que via de regra, uma ampliação da consciência. Neste sentido, é possível perceber o potencial da astronomia enquanto porta cultural acadêmica para o despertar de uma identidade cósmica. Contudo, como destaca Jafelice (2006c)^5 :
Essa ‘porta de entrada’ não pode ser adequadamente explorada, por quem defende uma perspectiva de educação integral do ser humano, se a abordagem ao estudo da astronomia continuar restrita aos seus aspectos técnico-científico formais, como habitualmente é feito em cursos, disciplinas e materiais de ensino e de divulgação de astronomia existentes. Nestas abordagens convencionais, não há, por um lado, uma discussão crítica sobre o significado do conhecimento científico, nem há, por outro lado, uma ampliação de interpretações que incorpore possibilidades não racionais significativas para nós, humanos, de nos relacionarmos com os conteúdos daquela área do saber, possibilidades de caráter fortemente integrador em termos psíquicos, cognitivos, culturais e sociais. Estas são possibilidades de teor simbólico-representacional, aceitas como constitutivas do humano em outras áreas do conhecimento, como em psicologia, sociologia, antropologia, por exemplo, mas normalmente excluídas, enquanto aporte válido à construção do conhecimento relevante, nas áreas de ciências exatas e biológicas. A compartimentação do saber, que foi se estabelecendo em nossa cultura e as implicações para o pensamento daí decorrentes – tanto aquelas de ordem organizativa e estruturadora, como as de ordem enviesadora e limitante –, precisam ser revisadas com urgência e determinação. E a área de educação, desde que também se submeta a tal revisão paradigmática e metodológica, é particularmente sensível e estratégica nesse empreendimento revisionista e na transformação dessa revisão em ações inovadoras e crescedoras para os sujeitos envolvidos. A reaproximação e um diálogo frutificador entre as culturas humanística e científica precisam ser, em parte, restaurados e, em parte, recriados em nossa cultura, pois constituem etapas fundamentais a colaborar na solução da crise civilizatória em que vivemos.
(^5) Vide também Jafelice (2002c, 2004, 2006b), onde essas discussões são mais aprofundadas.
holística, a astronomia, embora continua tendo uma importância e interesse em si mesma, é uma desculpa, pode-se dizer – por ser biológica e historicamente relevante ao humano e trazer muitas vantagens dos pontos de vista psicológico, cognitivo e cultural associadas a isto – para ser usada como estímulo e incentivo àquilo que, de fato, mais carecemos atualmente, que são o sentir, o pensar e o agir solidários, cooperativos, éticos, desde uma cosmovisão biocêntrica e sistêmica, decorrentes do aprofundamento de um processo comprometido de autoconhecimento. Segundo, por exemplo, Jafelice (2005a) a abordagem antropológica se justifica devido aos elementos culturais e, portanto, educacionais permearem nosso imaginário através de representações simbólicas criadas e vividas por nós enquanto seres humanos. Essa abordagem investe na recuperação vivencial da relação humana com o ambiente, com as outras culturas humanas e com o cosmo. Portanto, de tal enfoque pode-se extrair “substância, contextura e inspiração para práticas educacionais diversas” (JAFELICE, 2002d, p. 64) 6. Outro ponto fundamental desta abordagem, para o desenvolvimento de nossa proposta, é o exercício de tentar se colocar no lugar do outro e, até onde possível, ver o mundo segundo a perspectiva do outro. Nota-se que este aspecto é extremamente necessário, por um lado, para o desenvolvimento de uma genuína solidariedade, uma vez que ao se colocar no lugar do outro o sujeito sai do seu ego, se reconhece no outro, e cria possibilidades de empatia e de sensibilização, e por outro lado, para promover a conscientização da existência de múltiplas formas de entender e se relacionar com o ambiente ao redor, seja na mesma cultura ou em culturas diferentes (vide, neste sentido, JAFELICE, 2002c, p. 9-10). Essa abordagem comporta também naturalmente elementos sobre o meio ambiente, por entender que a própria origem e desenvolvimento de nossa forma de ser e pensar enquanto espécie foi definida pela relação dos seres humanos com o ambiente, ao longo da história da humanidade. Aqui, entenda-se por meio ambiente tudo que compõe o céu e a terra, lembrando que esta última é regida por ritmos e ciclos astronômicos e, portanto, de origem celeste. Então, ao longo da disciplina de astronomia, segundo essa abordagem, o desafio é reintegrar essas questões, ligadas a essa outra metade do espaço, e descobrir como que poderíamos recuperar isso de modo reintegrador em nossas vidas.
A perspectiva aqui é dupla: primeiro recuperar o contato com as coisas do céu pelo simples enriquecimento de cada um enquanto pessoa, enquanto ser humano, e, depois, como instrumentalização de cada um como educador, que lecionará tais assuntos ( JAFELICE, 2006a).
(^6) vide também Jafelice (2001a).
Segue abaixo um quadro comparativo entre a educação astronômica tradicional e a antropológica em questão.
Educação astronômica tradicional: a imagem pela imagem, vazia; apelo visual
Educação astronômica antropológica: A o que há de significativo por trás das projeções; processos psicológicos nosso lugar no universo ( fisicamente falando)
A o lugar do universo em nós ( simbolicamente falando) jovem não se interessa por ciência A^ o natural é o ser humano procurar sentido maior em tudo em que se envolve a abóbada celeste é esférica; etc., etc., etc.
A o céu não é único; há tantos céus quantas culturas humanas a astrologia: grande bobagem e perigo; exemplo do mal pensar; ramo equivocado das origens históricas da astronomia
A a astrologia: pensamento analógico; unidade cósmica; ricos conteúdos e processos psíquicos envolvidos a alquimia: idem, ibidem (química) A^ a alquimia: idem/ibidem aquilo que contribuiu direta ou indiretamente para a moderna astronomia ocidental serve, caso contrário é pitoresco ou curiosidade para quem tem tempo para essas coisas
A aquilo que não contribuiu diretamente para a moderna astronomia ocidental é mais um exemplo da diversidade de formas culturais e de possibilidades de pensamentos humanos fundamentais Quadro 2 – Reflexões adicionais: exemplos específicos para educação em astronomia Fonte: Jafelice (2004, p. 36)
3.6 HIPÓTESE DE TRABALHO
Em consonância com o que temos argumentado, pensamos na hipótese de que conteúdos de astronomia, quando trabalhados segundo um enfoque antropológico do caráter acima exposto, e associados com práticas da psicologia transpessoal, podem vir a ser um eficiente veículo cultural-acadêmico capaz de proporcionar uma expansão de consciência e promover mudanças na concepção de mundo dos sujeitos em questão, mudanças essas que se fazem necessárias para que a existência de uma vida mais solidária, justa e ecologicamente equilibrada comece a prevalecer no planeta.
O espírito de solidariedade humana e de parentesco com toda a vida é fortalecido quando vivemos com reverência o mistério da existência, com gratidão pelo presente da vida, e com humildade considerando o lugar que ocupa o ser humano na natureza. Necessitamos com urgência de uma visão de valores básicos para proporcionar um fundamento ético à emergente comunidade mundial. (Carta..., 2004, p. 40)