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2016_tese_lrvandrade.pdf, Resumos de Cenografia

... e o rock psicodélico brasileiro praticado por Raul Seixas e Os Mutantes. ... contra a dura natureza da caatinga e contra os malfeitores: “Arrumação, ...

Tipologia: Resumos

2022

Compartilhado em 07/11/2022

EmiliaCuca
EmiliaCuca 🇧🇷

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE HUMANIDADES
DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA
LIA RAQUEL VIEIRA DE ANDRADE
A CONSTITUIÇÃO PARATÓPICA DO DISCURSO LITEROMUSICAL DE
ELOMAR FIGUEIRA MELLO
FORTALEZA
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ

CENTRO DE HUMANIDADES

DEPARTAMENTO DE LETRAS VERNÁCULAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUÍSTICA

LIA RAQUEL VIEIRA DE ANDRADE

A CONSTITUIÇÃO PARATÓPICA DO DISCURSO LITEROMUSICAL DE

ELOMAR FIGUEIRA MELLO

FORTALEZA

LIA RAQUEL VIEIRA DE ANDRADE

A CONSTITUIÇÃO PARATÓPICA DO DISCURSO LITEROMUSICAL DE ELOMAR

FIGUEIRA MELLO

Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Linguística. Área de concentração: Linguística. Orientador: Prof. Dr. Nelson Barros da Costa

FORTALEZA

LIA RAQUEL VIEIRA DE ANDRADE

A CONSTITUIÇÃO PARATÓPICA DO DISCURSO LITEROMUSICAL DE ELOMAR

FIGUEIRA MELLO

Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Linguística da Universidade Federal do Ceará, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Linguística. Área de concentração: Linguística.

Aprovada em: ___ / ___ / ______.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________

Prof. Dr. Nelson Barros da Costa (Orientador) Universidade Federal do Ceará (UFC)


Prof. Dr. João Batista Costa Gonçalves Universidade Estadual do Ceará (UECE)


Profa. Dra. Letícia Adriana Pires Ferreira dos Santos Universidade Estadual do Ceará (UECE)


Prof. Dr. Pedro Rogério Universidade Federal do Ceará (UFC)


Profa. Dra. Sandra Maia Farias Vasconcelos Universidade Federal do Ceará (UFC)

Para Zé, Bubu e Naninha.

Aos colegas de disciplinas, doutorandos e mestrandos, pelos debates e troca de conhecimentos nas discussões em sala de aula. Aos professores do PPGL, pelas aulas ministradas e aos secretários, Eduardo Xavier e Vanessa Marques, pela atenção e gentileza.

Às professoras Sandra Maia Vasconcelos e Tércia Montenegro, pelas sugestões oferecidas no processo de qualificação desta tese.

Aos professores participantes da banca examinadora.

A CAPES, pelo apoio financeiro com a manutenção da bolsa de auxílio.

“A gente de uma Caatinga entre secas, entre datas de seca e seca entre datas, se acolhe sob uma música tão líquida que bem poderia executar-se com água. Talvez as gotas úmidas dessa música que a gente dali faz chover de violas,

umedeçam, e senão com a água da água,

com a convivência da água, langorosa.” (João Cabral de Melo Neto)

ABSTRACT

The present research approaches the literomusical pieces of the composer Elomar Figueira Mello, which we believe the constitute paratopically within the Brazilian music. The temporal range of our research is from 1972 to 1983, in which were produced the albums Das barrancas do rio Gavião (1972), Na quadrada das águas perdidas (1978) e Cartas catingueiras (1983).The motivation for studying the pieces of Figueira Mello comes from the fact that the composer reunites several important aspects within the Brazilian musical discourse: the pieces, although not losing touch with the contemporary esthetic, bring together both classical and popular expressions in such an innovative way that makes the compositions unique. The originality comes from the rummaging the history of the sertão, making references to the medieval galego-portuguese classical heritage, present in the Northeastern music and cordel literature. As result of the composer positioning, he retrieves the connection among the galician-portuguese troubadour poetry, the medieval artists and the singers of the sertão. The main theoretical tool used is the discourse analysis, specifically the line proposed by Maingueneau (2001, 2006, 2008a, 2008b, 2010), whose theory is used to approach concepts such as inter-discourse, discursive field, which sums up the definitions of positioning, genre, inter-language and scenography. In addition to the theory of Dominique Maingueneau, the works of Costa (2004, 2005a, 2005b, 2007, 2012) are also used within the Brazilian literomusical context. The objective of this work is to verify how paratopia is a constituent fact in the literolmusical discourse of the composer, by studying the paratopic shifting in his language code and in the proposed scenarios – aspects that mark his position the Brazilian music. By observing the paratopic shifts, in the verbal aspects of the songs, we can identify strong elements which endorse the paratopy of the composer, mainly implemented in the cenography and in the language code of the pieces which we analyzed.

Key-words: Paratopia. Literomusical Brazilian discourse. Elomar Figueira Mello.

SUMÁRIO

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1 INTRODUÇÃO

Em nossa pesquisa, analisamos a obra literomusical do compositor Elomar Figueira Mello, utilizando como base a noção de paratopia , desenvolvida por Maingueneau (2001, 2006), nos estudos da Análise do Discurso. Acreditamos que o discurso de Elomar se constitua paratopicamente a partir de um posicionamento no campo da música brasileira.

O referencial teórico principal de nosso trabalho é a Análise do Discurso, especificamente as contribuições do pesquisador francês Dominique Maingueneau, na abordagem dos conceitos de interdiscurso e campo discursivo , que agregam as definições de posicionamento , gênero , interlíngua e cenografia. O conceito de paratopia é apresentado pelo pesquisador (MAINGUENEAU, 2001, 2006) na relação com o campo da literatura, em que a paratopia é apreendida na própria atividade de criação e na enunciação.

O pesquisador francês descreve alguns tipos de paratopia, observados a partir do que denomina “embreagem paratópica”, da qual participam elementos (embreantes) presentes tanto no universo representado pela obra, quanto na condição do autor em relação ao campo discursivo e à sociedade da qual participa.

No discurso da literatura na França entre os séculos XVI e XX, Maingueneau (2001, 2006) observa que o conteúdo de uma obra literária está diretamente relacionado às condições de enunciação dessa obra. A discussão é voltada para as abordagens imediatas do texto, que têm, como procedimentos, priorizar os meios de inserção do escritor no campo literário; observar a interligação dos gêneros, das correntes literárias, dos traçados biográficos dos autores com o campo literário; considerar os suportes da obra e a situação de enunciação, ou seja, a “cenografia” que a obra constrói e, por fim, chegar ao conteúdo dessa obra. A partir dessas abordagens, é possível observar a gestão do contexto – meio que estabelece a obra e, ao mesmo tempo, é estabelecido por ela – pelo próprio texto.

Dessa forma, um dos fatores de maior relevo no estudo da obra é o pertencimento do autor ao campo discursivo e à sociedade em que se encontra. Para Maingueneau (2001, 2006), tal pertinência se faz problemática, uma vez que a inscrição do campo literário no âmbito social ocorre de maneira conflituosa. Ao mesmo tempo em que esse campo discursivo participa da sociedade, a própria enunciação dos discursos literários desestabiliza a ideia que comumente se tem de lugar, com fronteiras bem delimitadas.

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Não é possível pensar em escritores de literatura como funcionários assalariados que mantêm uma produção literária constante; esses produtos não seriam obras genuínas, pois, para se criar uma obra literária, é preciso que o autor infrinja certas “regras” e transcenda o que se espera dele. A instituição literária tem de fato um lugar na sociedade, contudo não se pode assinalar um território para ela, e, consequentemente, para os seus enunciadores.

O pertencimento do enunciador ao campo literário é, na verdade, uma constante negociação entre um lugar e um não-lugar. A instabilidade entre localização e deslocalização, que determina a condição do autor de obra literária, é denominada por Maingueneau (2001,

  1. de paratopia, do grego -para (ao lado de) e -topos (lugar).

Nessa perspectiva, um autor de literatura imerge em uma paratopia na medida em que se distancia do seu meio social, a fim de que possa representá-lo na enunciação. É assim que uma obra literária deve ser produzida. E é a própria enunciação, através da obra, que garante a inserção de seu autor no campo discursivo.

Maingueneau (2006, 2008a, 2008c, 2010) associa a paratopia aos discursos chamados “constituintes”, tais como o discurso científico, o discurso religioso, o discurso filosófico e o discurso literário.

Os discursos constituintes, segundo o pesquisador francês, têm um conjunto de particularidades que o configuram como tal; eles definem, para si e para a sociedade, um archéion , isto é, um grupo de enunciadores consagrados; têm caráter autoconstituinte, ou seja, estabelecem, através de sua própria enunciação, sua legitimidade frente aos demais discursos; têm, ainda, caráter heteroconstituinte, pois pretendem dar sentido às ações da sociedade e predominar sobre os outros discursos, inclusive os constituintes; afirmam-se ligados a uma Fonte legitimante, como a Verdade, Deus etc.

Esses discursos não têm uma localização precisa no espaço social e seu status varia de acordo com o contexto histórico e com as sociedades. Um exemplo disso é o discurso literário, do qual falamos anteriormente, que, de acordo com Maingueneau (2001, 2006), teve sua época áurea na França no período entre os séculos XVI e XX, momento histórico em que a literatura estava associada à “Sabedoria” e à “Verdade”. No contexto atual francês, segundo o pesquisador, apesar de ainda existir um campo literário ativo, a literatura, contida pelas mídias audiovisuais, vem perdendo a capacidade de gerar acontecimentos na sociedade.

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contexto socio-histórico de nosso país, pode ser caracterizado como um discurso de estatuto constituinte, uma vez que, nas canções há marcas de heterogeneidade mostrada (ações intertextuais meta e interdiscursivas), capazes de configurar um caráter constituinte para esse discurso. Tais ações ainda preenchem os requisitos necessários (estabelecer um archéion , ser auto e heteroconstituinte e fazer remissão a outros discursos constituintes para se legitimar) para que o discurso literomusical exerça a função constituinte.

Uma série de critérios que estabelecem posicionamentos discursivos no campo literomusical brasileiro são descritos por Costa (2012), com a finalidade de delinear um perfil para esses posicionamentos. Tais critérios estão organizados da seguinte forma:

a) movimentos estético-ideológicos , do qual fazem parte a Bossa Nova, a Canção de Protesto, o Tropicalismo; b) agrupamentos de caráter regional , como os mineiros, os cearenses, os baianos; c) agrupamentos em torno de temáticas , em que estão contidos os catingueiros, os românticos; d) agrupamentos em torno do gênero musical , como os sambistas, os forrozeiros; e) agrupamentos em torno de valores relativos à tradição , no qual se enquadram a canção pop e a MPB. Em nossa pesquisa, especial atenção é dada ao critério c) , que corresponde ao agrupamento em torno de temáticas, precisamente ao agrupamento dos compositores catingueiros, que, de acordo com Costa (2012), tem Elomar Figueira Mello, como o seu maior representante.

Costa (2012) inclui no agrupamento dos catingueiros os compositores e intérpretes que direcionam suas canções para temas que tratam dos aspectos topográficos e sociais da região Nordeste, mesmo que não se limitem a tal. Dentre esses compositores, o nome de Elomar Figueira Mello, ou somente Elomar, como é conhecido no meio musical, destaca-se por servir de referência para o posicionamento de vários compositores e intérpretes como Xangai, Vital Farias, Dércio Marques, Carlos Pita, Fábio Paes, Geraldo Azevedo, Roze, e também acrescentamos os nomes de Juraildes da Cruz e de Chico Aafa.

Dessa forma, partimos das considerações apresentadas por Costa (2012), acerca do posicionamento que aborda a temática catingueira, para o estudo do discurso literomusical de Elomar Figueira Mello, que enuncia, através de sua obra, o sertão e seu povo.

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O sertão é tema que, há muito tempo, ocupa lugar de destaque nas produções dos campos discursivos artísticos do Brasil. Na literatura, a ideia de sertão como um espaço assaz intricado e exposto como zona apartada da estrutura comum da civilização e propenso a modos de vida peculiares, começou a ser amplamente divulgada na metade do século XIX e início do século XX, pela Literatura de Cordel e pela obra euclidiana, respectivamente.

Na década de 1930, a matéria sertaneja ganhou força com os romances que retrataram as vicissitudes do camponês nordestino frente à implacabilidade do clima, à disposição geográfica remota e ao contexto político oligárquico da época. Destacaram-se nesse período as obras de Rachel de Queiroz, Graciliano Ramos, José Lins do Rego e Jorge Amado.

Nos anos seguintes, nas obras dos autores João Cabral de Melo Neto ( Morte e vida severina , 1955), Ariano Suassuna ( O auto da compadecida , 1955) e Guimarães Rosa ( Grande sertão: veredas , 1956), persistia a imagem do sertão como lugar desprovido de lei e de ordem, palco de eventos trágicos, marcados pelo flagelo, pela violência, pelo banditismo e pelo misticismo religioso. Contudo, a partir dessas obras, o conceito de sertão transcendeu o local e, sem ligações diretas com um tempo ou com um espaço restritos, adquiriu um caráter universal.

A imagem do sertão caracterizada na literatura passou a ser cultuada por cineastas, artistas plásticos, compositores e por autores dos mais diversos campos. Todos esses criadores contribuíram para formar no imaginário social a ideia de sertão que conhecemos hoje.

No campo audiovisual, o sertão foi retratado em produções como O cangaceiro (1953), do cineasta Lima Barreto; o filme de Nelson Pereira dos Santos, Vidas secas (1963), que foi baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos; o aclamado Deus e o Diabo na terra do sol (1964), longa metragem de Glauber Rocha, para citar os mais icônicos.

Nas artes plásticas, Candido Portinari, através da pintura, expôs na série Os Retirantes (1944) o infortúnio dos sertanejos desprovidos, flagelados pelas secas. A partir da década de 1950 até os anos de 1990, ganharam relevo no cenário artístico nacional as obras de Aldemir Martins e sua série de cangaceiros; as xilogravuras de Gilvan Samico; os desenhos e animações de Chico Liberato, que abordam a figura do vaqueiro; as obras de Juraci Dórea, principalmente aquelas inspiradas nas xilogravuras dos cordéis.

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Dessa forma, interessa-nos a investigação da embreagem paratópica nas canções de Elomar, através do seu plano verbal – os textos das canções.

A fim de alcançar nosso objetivo, partimos, inicialmente, da seguinte questão: de que forma a paratopia se manifesta na constituição do discurso literomusical – as canções – de Elomar, como uma maneira de legitimar o posicionamento do compositor no campo da música brasileira?

A partir da questão principal, elaboramos ainda algumas questões específicas acerca da constituição paratópica do discurso elomariano. São elas: 1) Como se dá a atuação dos embreantes paratópicos no investimento linguístico das composições de Elomar? 2) De que maneira tais embreantes são verificados no investimento cenográfico dos textos das canções? 3) Em que medida a paratopia discursiva de Elomar valida o seu posicionamento no discurso literomusical brasileiro?

Supomos, para as questões levantadas, que os embreantes paratópicos são observados no código de linguagem e na cenografia dos textos das canções de Elomar. A embreagem paratópica contribui para a legitimação do posicionamento discursivo do compositor, caracterizado, principalmente, pela retomada de valores ligados à tradição cultural nordestina e pela aversão à invasão tecnológica e ao estabelecimento da cultura estrangeira, sobretudo da norte-americana, sobre a cultura sertaneja.

De acordo com Maingueneau (2001, 2006), os embreantes paratópicos linguísticos se referem à língua (código de linguagem) investida pelo autor em determinada obra, que pode conter traços de plurilinguismo interior (variação linguística, uso de dialetos etc.) e/ou de plurilinguismo exterior (inserção de línguas estrangeiras, línguas remotas etc.). Os embreantes linguísticos são observados no investimento linguístico das composições de Elomar através do código de linguagem utilizado nos textos das canções, com a referência de plurilinguismo interior. O compositor recorre ao plurilinguismo na representação da variante linguística utilizada no interior da região Nordeste, provavelmente em épocas passadas, assim como no o uso do português culto, rebuscado, com escolha de construções carregadas de arcaísmos.

No investimento cenográfico, que concerne à cenografia e no qual está contido o inestimento ético, a embreagem paratópica é observada na relação da constituição ética dos enunciadores com o espaço e o tempo determinados na cenografia. São observados

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embreantes paratópicos espaciais e temporais (MAINGUENEAU, 2001, 2006), na ocorrência de enunciadores e topografias típicos do sertão nordestino, como o lavrador, o vaqueiro, o retirante, o cantador, o cigano, o peregrino, dentre outros. Todavia, tais enunciadores vivenciam um tempo cronológico pretérito, em um espaço idealizado. Esse espaço compõe o investimento cenográfico dos textos de Elomar e traz ainda referências à tradição medieval ibérica, como os reinos, a cavalaria, os menestréis, os trovadores, as gestas etc.

O posicionamento discursivo de Elomar, no campo literomusical brasileiro, é caracterizado pelo enaltecimento dos valores ligados à tradição sertaneja – cujas raízes provêm da herança ibérica, trazida pelos colonizadores e que se conservou ao longo do tempo no interior nordestino – em oposição aos valores da modernidade, cultuados nas grandes metrópoles e, até mesmo, nas cidades do campo da época atual. Esse posicionamento é determinado na própria enunciação, que lança mão de elementos alusivos ao sertão de outrora e que remetem a uma paratopia criadora (MAINGUENAU, 2001, 2006), observada no uso da língua nos textos das canções (em sua grande maioria cantadas em dialeto “sertanêz”); na cenografia (referência a épocas e lugares passados ou imaginários onde vivem personagens paratópicos) e na preferência por certos gêneros musicais (incelência, puluxia, amarração, chula, cantiga, cantorias etc.).

Dessa forma, Elomar representa, em suas composições, a sua própria situação paratópica, pois é sertanejo, intelectual e artista, enunciador de um sertão de antanho, imerso em um contexto social que valoriza a modernidade e o estrangeirismo em detrimento dos valores tradicionais e culturais.

A cenografia sertaneja apresentada por Elomar é configurada não somente pela relação do homem com a topografia, mas também pela representação das interações do indivíduo com a sociedade, a cultura e a história. Dessa forma, o compositor, que vivencia o contexto sertanejo, transfere suas próprias experiências para a enunciação e, em um movimento cíclico, essa enunciação participa e interfere no modo de vida do artista.

Assim, contemplamos também aspectos do que Maingueneau (2001, 2006) descreve como bio/grafia , no sentido da vida (bio) que influencia a obra (grafia) que, por sua vez, influencia a vida, pois cremos que não seria possível analisar separadamente as canções sem levar em consideração a situação de produção, uma vez que Elomar vivencia o sertão, é um sertanejo de fato e representa seu mundo através da paratopia criadora.