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Perspectivas Feministas em Relações Internacionais: Novo Contexto de Participação Feminina, Notas de aula de Relações Internacionais

Um estudo sobre as perspectivas feministas em estudos de relações internacionais, buscando compreender suas contribuições e validade no contexto atual. O texto contextualiza as novas ideias em um cenário favorável à aceitação e ascensão femininas em meios relacionados às relações internacionais, especialmente na américa latina. O documento identifica exemplos de mulheres em posições de poder e analisa os comportamentos e relações de gênero existentes nesse espaço político.

O que você vai aprender

  • Como as perspectivas feministas contribuem para o campo de estudos de Relações Internacionais?
  • Quais são as perspectivas feministas em estudos de Relações Internacionais?

Tipologia: Notas de aula

2022

Compartilhado em 07/11/2022

Copacabana
Copacabana 🇧🇷

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Repensando as “high politics” sob a perspectiva feminista das
Relações Internacionais: um olhar sobre a cultura política na
América Latina.
Projeto de pesquisa apresentado à FAPESP para solicitação
de Bolsa de Pesquisa de Iniciação Científica (IC).
Graduando: Sarah de Freitas Reis.
Orientadora: Profª. Dr.ª Lídia Maria Vianna Possas.
Co-Orientador: Prof. Dr. Tullo Vigevani.
Marília
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Repensando as “high politics” sob a perspectiva feminista das

Relações Internacionais: um olhar sobre a cultura política na

América Latina.

Projeto de pesquisa apresentado à FAPESP para solicitaçãode Bolsa de Pesquisa de Iniciação Científica (IC). Graduando : Sarah de Freitas Reis. Orientadora Co-Orientador : Profª. Dr.ª Lídia Maria Vianna Possas.: Prof. Dr. Tullo Vigevani.

Marília

Repensando as “high politics” sob a perspectiva feminista das Relações

Internacionais: um olhar sobre a cultura política na América Latina.

Resumo: uma das áreas das ciências humanas em que a inserção feminina aconteceu com maior demora, devido, As Relações Internacionais estiveram por muito tempo distantes da participação das mulheres. Foi dentre outros fatores, à “masculinidade” atribuída ao poder, bem como aos preconceitos e estereótipos arespeito dos supostos papéis dos homens e mulheres. Esse campo de estudos, no entanto, tem presenciado uma emergência de perspectivas que têm questionado a predominância dessa cultura política e daidentificação do campo com características masculinas, ao mesmo tempo em que têm fomentado novos modos de ver as relações internacionais, levando em conta a participação de sujeitos antes invisíveis: asmulheres. Isso se deve a uma série de transformações, que refletem em um aumento do acesso de mulheres a carreiras e áreas predominantemente masculinas.O presente estudo busca compreender as perspectivas feministas e suas contribuições ao campo de estudos das Relações Internacionais, e tentará contextualizar essas novas idéias em um cenário que, acredita-se,esteja se tornando mais favorável à aceitação e ascensão femininas nos meios ligados às relações internacionais, especialmente na América Latina. A escolha de dois exemplos nessa região se deve à maiorproximidade com o contexto cultural em que vivemos, de sociedades predominantemente conservadoras, tradicionalistas e misóginas. Nos últimos anos os países latino-americanos têm vivenciado um processo delenta liberalização de suas sociedades conservadoras, notadamente o Chile (onde foi eleita nesse ano a médica Michele Bachelet para a presidência da república), e a Colômbia, que se destaca não só por ter umamulher na chancelaria (Carolina Barco), mas por ter já um histórico de mulheres que ocuparam esse cargo, portanto, com uma cultura política mais favorável à participação feminina. Pretende-se utilizar essesexemplos e de outras mulheres em posições ligadas às relações internacionais, identificando os comportamentos e relações de gênero existentes nesse espaço político. Verificar-se-á, então, a validade dasperspectivas feministas, e seu alcance na construção de um campo de estudos e de atuação nas relações internacionais que leve em conta a participação democrática, as culturas políticas e as relações de gênero. Introdução: A motivação inicial ao surgimento do estudo das relações internacionais remonta ao fim da cristandade medieval, quando surgiram os chamados “Estados modernos”. Essa mudança na configuração da realidade exigiu a elaboração de novos conceitos^1 , resultando no surgimento de estudos acerca das relações entre os recém-criados “Estados soberanos”. Mas apenas na década de 1920 é que o meio intelectual, (especialmente da Ciência Política e do Direito) assumiu o desafio de transformar as relações internacionais de questão filosófico-política em objeto de conhecimento científico. O que pesou decisivamente para que isso ocorresse foi o fim da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). [...] sob a forte pressão política da opinião pública que exigia explicações sobre as causasde tão extensa e mortífera guerra, assim como exigia a tomada de decisões que impossibilitassem definitivamente a eclosão de novas guerras no futuro, os estudiosos dasrelações internacionais [...] lançaram-se à reflexão sistemática sobre os elementos constitutivos do meio internacional, com a finalidade de elaborar um dispositivo conceitualcoerente, capaz não só de produzir conhecimento sobre a realidade, como também de dar ao “homem de estado” os meios necessários para agir com plena consciência sobre o alcancede seus atos_._ (GONÇALVES, 2001, p. 89).

(^1) A teoria do direito natural, até então um modelo explicativo satisfatório, já não conseguia explicar a realidade. Foi quando se desenvolveu o pensamento Realista ou Clássico, como veremos adiante.

desde a Guerra do Peloponeso^4 , só passaram a ter maior peso após a consolidação dos Estados Nacionais Centralizados^5 , quando os três elementos básicos do estado nacional moderno (território, povo e governo soberano) se delinearam, tornando, como coloca Merke (2002), o sistema político europeu fragmentado e habitado por estados “soberanos”. Segundo ele, [O Tratado de] Westphalia não criou uma mudança de sistema imediata, ele foi o símbolodessa mudança [...] Esses estados são constitucionalmente independentes (soberanos) e têm autoridade exclusiva para impor regras dentro de suas próprias fronteiras (p.101, traduçãonossa).

A adoção da teoria clássica ou realista, de inspiração hobbesiana 6 , pressupõe não só uma clara distinção entre os domínios da política interior e exterior, mas também que a política exterior só pode existir entre entidades soberanas, isto é, que os Estados sejam os únicos detentores legítimos da soberania e do poder de coerção (MERLE, 1981). Sob a ótica realista, se definem então como sendo atores unitários no cenário internacional, e a defesa de seus interesses nacionais é o que os move nas ações de política externa. A compreensão dos jogos de poder^7 é a chave para o entendimento dos acontecimentos do mundo. Reiterando essa concepção sobre a teoria tradicional das relações internacionais, Cox (1986) ressalta que ela é claramente distintiva das duas esferas (interna e externa), sendo a última pura expressão dos interesses do Estado. Portanto, pode-se dizer que, sob esta perspectiva, interessam às Relações Internacionais apenas temas da esfera externa aos Estados, isto é, os assuntos inter-nacionais.

estabelecidas fora deles, sem a possibilidade de aplicação de qualquer sanção (dada a inexistência de uma autoridadeexterior aos Estados). Pontua, apesar disso, a grande contribuição dessa teoria, que foi a consagração do Estado como sujeito privilegiado, senão exclusivo, do direito internacional, ponto em que ele se encontra com um dos componentesda teoria clássica. (^4) Ver TUCÍDIDES. A História da Guerra do Peloponeso. Brasília, Editora UnB, 2003. Tucídides é considerado o primeiro historiador moderno e o primeiro analista crítico das relações internacionais, pela maneira com que construiusua obra, relatando os fatos tal como haviam ocorrido, buscando a imparcialidade e objetividade, e ao mesmo tempo aspirando a interpretar as motivações dos protagonistas do conflito. (^5) Tal consolidação tem como referência histórica o Tratado de Westphalia de 1648, que encerrou a Guerra dos Trinta Anos na Europa. (^6) A teoria hobbesiana defende que as pessoas têm um direito fundamental à autopreservação e a perseguir objetivos egoístas, mas irão abandonar esses direitos para uma monarquia absoluta no interesse da segurança comum e felicidade.Nas relações internacionais, o hobbesianismo se aplica ao considerar o meio internacional como um “estado de natureza”, ou a guerra de todos contra todos, em que os Estados se movem conforme seus interesses egoístas, e sócooperarão uns com os outros para criar uma possível paz na medida em que isso atender aos seus interesses. (HOBBISM..., 2005, tradução nossa). (^7) Tendo como referência a Teoria dos Jogos (desenvolvida a partir dos estudos de Ernst Zermelo, em 1913) pode-se dizer que um jogo é um modelo teórico para uma situação definida por interesses competitivos, em que cada jogadorprocura maximizar seus ganhos. Nas relações internacionais utiliza -se essa concepção especialmente na análise, sob a ótica realista, de possibilidades de cooperação e conflito, ao se considerar os ganhos ou perdas possíveis. (TÉLLEZ,s.d.).

A concepção realista, no entanto, encontrou limitações, explicitadas pelas críticas de diversos autores. Merle (1981), por exemplo, ressalta que os filósofos realistas privilegiaram excessivamente o papel dos Estados como atores exclusivos das relações. Segundo ele, os atos do Estado são um produto de influências de forças que agem no seu interior. Revela, com sua observação, a dificuldade que existe em se definir a ação do Estado a partir de uma lógica hobbesiana: como existem várias forças (internas) envolvidas na produção do interesse estatal, é difícil discernir claramente o que é esse interesse. Reafirmando esse ponto-de-vista, Cox (1986) defende que, atualmente, o Estado e a sociedade civil são tão interpenetrados que os conceitos são muito vaga e imprecisamente indicativos de distintas esferas (interna e externa). Tais questionamentos levaram os estudiosos de Relações Internacionais a tentarem redefinir a abordagem das relações internacionais, repensando os limites desse objeto de estudo. A começar pela crítica à vertente clássica ou realista da teoria das rela ções internacionais, abriu-se espaço para diversas novas perspectivas das RI, que fomentaram a discussão e o amadurecimento nesse campo de estudos. Justificativa e Relevância do Tema: Tendo em vista as críticas e limitações colocadas em relação à escola Realista apontadas pelo presente projeto, compreendemos ser relevante iniciar nossa pesquisa a partir da revisão bibliográfica de uma das perspectivas que surgiu a partir dessas críticas: a perspectiva feminista das Relações Internacionais. Sob esta concepção, questões antes consideradas como fatores intra- nacionais (notadamente a questão de “gênero”) passaram a ser vistas como de interesse e repercussão internacionais. A respeito disso, Tickner (2001) explica: Mais rica do que as explanações racionalistas generalizadas sobre o comportamento deestados associais e estruturas anárquicas, típicos de metodologias convencionais, as teorias feministas são baseadas em uma ontologia de relações sociais. Ao revelar e analisarhierarquias de gênero socialmente construídas, as perspectivas feministas tentam entender a subordinação das mulheres, que é vista como variável ao longo do tempo e espaço (p. 276,tradução nossa).

A base teórica sobre a qual se assenta essa perspectiva é o conceito de “gênero”, categoria analítica que vem sendo desenvolvida desde a década de 70 no âmbito das ciências humanas, e tem possibilitado aos estudiosos reverem seus objetos de estudo, incluindo visões antes não consideradas. Na historiografia, por exemplo, como relata Matos (2000), as preocupações com a

Este é o apelo inicial dos estudiosos feministas das Relações Internacionais: embora não se pretenda que as perspectivas feministas dêem soluções para todas as necessidades do campo, espera-se que elas possam fazer importantes contribuições ao deixar falarem vozes que não tinham sido previamente ouvidas (TICKNER, 2001). Acredita-se que essas vozes, marginalizadas da política internacional, tenham a oferecer uma visão diferente das existentes, resultante da combinação de estudos de gênero e estudos de relações internacionais, tradicionalmente afastados entre si. Esse distanciamento entre a categoria de gênero e as relações internacionais tem sido percebido pelos estudiosos da área, como Halliday (1999). Segundo ele, tradicionalmente o objeto de estudo das RI são as chamadas high politics , na qual as questões de gênero parecem não ter relevância. Os estudiosos de RI tendem a ver essas questões como problemas intra-nacionais, resultando em uma visão das relações internacionais como sendo “neutras de gênero” (TICKNER, 2001). A linguagem da política internacional também contribui para esse afastamento, ao sugerir um forte conteúdo convencional masculino com sua ênfase em valores como a obstinação e a competição (HALLIDAY, 1999). Isso é perceptível, por exemplo, no discurso de Maquiavel (2003), em que ele coloca as qualidades virtu (caracterizando o masculino, a ação, a qualidade do vir) e, no outro extremo, a fortuna (o caráter feminino, dito inconstante e caprichoso) 10. Igualmente condicionada ao gênero masculino, temos a prática política: as mulheres que vieram a ocupar posições políticas no topo tinham, em sua maioria, buscado assegurar a sua contraparte masculina, como por exemplo Margaret Thatcher e Jean Kirkpatrick (HALLIDAY, 1999). Em outras palavras, elas tiveram que se “despir” de seu papel feminino a fim de se afirmarem no cenário político. Thatcher, por exemplo, ficou conhecida como a “Dama de Ferro”, pela sua postura rígida. Acredita-se, então, que existe um componente de gênero a influenciar sobremaneira os comportamentos de homens e mulheres na ação política, chegando muitas vezes a limitar ou condicionar o acesso feminino a posições no poder. Uma questão fundamental e mais ampla, que em grande parte explica o afastamento entre gênero e relações internacionais apontado pelos estudiosos, é a separação existente entre as esferas pública e

(^10) Acerca deste aspecto, Halliday (1999, p. 165) cita Pitkin (1984).

privada. As mulheres sempre tiveram seu espaço restrito ao âmbito privado (doméstico), enquanto política sempre foi considerado de domínio público, portanto, alheio a elas. O lugar das mulheres no espaço público sempre foi problemático, pelo menos no mundoocidental, o qual, desde a Grécia Antiga, pensa mais energicamente a cidadania e constrói a política como o coração da decisão e do poder. ‘Uma mdeslocada’, diz Pitágoras. Prende-se à percepção da mulher uma idéia de desordem.ulher em público está sempre Selvagem, instintiva, mais sensível do que racional, ela incomoda e ameaça (PERROT,1998, p.8).

Como exemplo podemos citar as construções sociais de ‘homem público’ (geralmente associado à notoriedade, com conotação positiva) e a ‘mulher pública’ (com forte conotação negativa). Perrot (1998) diz, a esse respeito: Investido de uma função oficial, o homem público desempenha um papel importante ereconhecido. Mais ou menos célebre, participa do poder. [...] Depravada, debochada, lúbrica, venal, a mulher – também se diz a ‘rapariga’ - pública é uma ‘criatura’, mulhercomum que pertence a todos (p.7).

A inserção das mulheres no meio público foi, ao longo do tempo, acompanhada por críticas e resistências, o que as impediu por muito tempo de atuar politicamente, por exemplo. E só recentemente é que essa relação entre o público e privado passou a ser discutida, e começou-se a pensar a influência tanto dos espaços privados na esfera pública como das decisões em esfera pública que repercutem no âmbito privado. É partindo dessa questão que Elshtain (1981) introduz a relação do público e privado, denunciando a predominância da identificação da esfera política com características masculinas, e dando o impulso inicial a uma das bases da teoria feminista das relações internacionais. As mulheres são os mais claros casos de atores não-estatais, já que seguramente pode ser estabelecido que as mulheres como um grupo não detêm poder estatal em qualquer um dos 190 países independentes do mundo (HALLIDAY, 1999). Apesar disso, devem ser consideradas, já que sempre foram jogadoras na política internacional, mesmo que suas vozes raramente tenham sido ouvidas nos salões do poder estatal (TICKNER, 2001). Podemos dizer, assim, que o estudo feminista das RI de maneira geral tem por finalidade focalizar a atuação das mulheres e sua relação com o cenário internacional, uma vez que nas teorias de Relações Internacionais elas permaneceram à margem das análises. Para se chegar nisso, as teorias feministas têm procurado explicar a subordinação das mulheres às posições econômicas e sociais

representações formadas e cristalizadas pelos teóricos realistas, acredita-se que, uma vez desconstruídos, esses discursos podem revelar condicionamentos e visões parciais de mundo, que dificultaram por muito tempo tanto a inserção feminina no campo quanto a visibilidade das mulheres como também atuantes na arena internacional. Assim, apresentam-se à teoria feminista das R.I. alguns desafios (HALLIDAY, 1999): revelar como as questões de gênero e valores desempenham um papel nas relações internacionais, e analisar as conseqüências específicas de gênero dos processos internacionais, sejam estes militares, econômicos, políticos ou ideológicos. Este último desafio tem, na visão de Tickner (2001), trazido algumas contribuições ao estudo das relações internacionais. Por serem análises “de baixo para cima”, que começam no micronível, elas tentam entender como indivíduos, enredados em relações sociais, causam e sofrem impacto de políticas internacionais no mais alto nível. É dessa forma que as feministas tentam contribuir com uma nova perspectiva, traçando a ligação entre o micro e o macro, e mostrando qual a influência recíproca das esferas pública e privada. Outra contribuição relevante, segundo Sylvester (s.d.), resulta do argumento de que pessoas em posições de subordinação social – nesse caso mulheres nas RI – desenvolvem diferentes e mais acuradas visões sobre como o mundo e suas “regras” trabalham e como poderíamos trazer essas perspectivas para dar suporte a um campo. Uma vez conscientes da existência e contribuições dessas perspectivas ao campo das RI, é preciso que se pense na prática política. Em todo o mundo, as mulheres encontram obstáculos para sua participação na política, barreiras já apontadas pelos teóricos feministas ao constatarem a conformação masculinista da política, economia e instituições, cristalizada no Estado e em seus componentes. Em 2005, a taxa de representação feminina em todas as instâncias de atuação política estava perto de uma taxa de 16% em todo o mundo (WOMEN... 2006) 13. Embora este cálculo venha aumentando nos últimos anos, o ideal de paridade continua permanecendo distante. De fato, chega a apenas 11 o número de (^13) Segundo dados do IDEA. Criado em 1995, o Instituto Internacional para a Democracia e Assistência Eleitoral (IDEA), uma organização intergovernamental com estados-membros de todos os continentes, tem por objetivo ajudar adesenvolver e fortalecer as instituições e cultura da democracia em todo o mundo. O IDEA reconhece que, se as democracias novas e estabelecidas do mundo são realmente democráticas, metade da população mundial (no caso, asmulheres) não pode ser excluída. (WOMEN..., 2006)

mulheres no topo do poder político mundial, contrastando fortemente com os 182 países governados por presidentes ou primeiros-ministros do sexo masculino (HARAZIM, 2006). Dados como esse confirmam que, quarenta anos depois da adoção da Convenção dos Direitos Políticos das Mulheres, e apesar dos progressos inegáveis, a vida política continua sendo dominada pelos homens em todos os países (AVELAR, 2001, p.37). Na América Latina a situação não é muito diferente. Região de cultura predominantemente tradicionalista e conservadora, possui somente 14% de mulheres na atividade política^14. Na última década, no entanto, tem se verificado uma ascensão de mulheres no cenário político, tratada por alguns analistas como resultado de um processo de “destape”: um processo de liberação de sociedades conservadoras, como a chilena por exemplo (VILA-NOVA, 2006, p.A16). Num país em que mulheres e homens ainda votam em seções separadas, a eleição de uma mulher para a presidê ncia da república tem sido considerada por seus partidários um marco histórico (LAMEIRINHAS, 2006, p.A10). A imprensa internacional tem tratado tal fato como um salto para as mulheres na área política. Isso se justifica pelo fato de ser a primeira mulher eleita na América Latina que não tenha sido uma viúva de alguma forte figura política^15. Embora os resultados da votação de homens e mulheres tenham sido idênticos, o fato de ser uma mulher deu origem a especulações, e acredita-se que haverá quem continuará observando se seu comportamento será similar ou diferente ao de outros políticos e ela mesma poderá sentir a necessidade de demonstrar que trabalha igual ou melhor que os homens (PRESIDENTA..., 2006). Se no Chile é novidade as mulheres estarem próximas do poder, na Colômbia essa prática já ocorre há algum tempo. Mais exatamente desde 1991, quando Noemí Sanín se tornou ministra das Relações Exteriores daquele país, a primeira mulher a ocupar esse cargo na América Latina. Depois de Noemí, a Colômbia teve mais duas mulheres na chancelaria (María Emma Mejía, entre 1996 e 1998, e a atual, Carolina Barco Isakson). Barco tomou posse no ano de 2002, uma dentre as seis (^14) Dados referentes ao poder legislativo. Para efeito de comparação, na Europa o índice geral é aproximadamente o mesmo (14%). Já nos países nórdicos, tomados em separado, o índice de representação feminina chega a 35%(WOMEN in..., s.d.). (^15) Destaca-se a relevância não só da eleição de Bachelet, mas também de Angela Merkel na Alemanha, e de Ellen Johnson Sirleaf na Libéria, que se caracterizam pela ascensão ao poder por meio de eleições, sem assumir o posto deum marido ou pai morto (causa mais frequente do acesso de mulheres ao poder, como nos seguintes casos: Violeta Chamorro na Nicarágua, Mireya Moscoso no Panamá, Maria Estela Perón(WOMEN’S... 2006). –Isabelita- na Argentina, dentre outras).

Objetivos Específicos:

  1. Identificar e localizar a literatura de interesse para a pesquisa em questão, a saber: as obras e/ou artigos que tratem das Perspectivas Feministas das Relações Internacionais, bem como aquelas contendo críticas a essas perspectivas;
  2. Proceder à análise dessas teorias, segundo procedimentos metodológicos contidos no presente projeto, buscando captar as suas contribuições ao estudo das Relações Internacionais e de que maneira introduzem novas questões para a compreensão do cenário internacional;
  3. Realizar pesquisa documental na imprensa internacional (tanto na imprensa de opinião quanto na imprensa de informação), para se extrair informações sobre os dois exemplos de mulheres no poder na América Latina que nos propomos a acompanhar (seja observando a sua atuação em questões ligadas às relações internacionais, seja tentando identificar os comportamentos e relações de gênero que perpassam o meio da prática política).
  4. Realizar pesquisa documental sobre dados estatísticos, relatórios e estudos relacionados ao acesso feminino a carreiras ligadas às relações internacionais, que revelem a real situação da prática política no mundo todo. Plano de Trabalho: Esse trabalho terá início em 2006, com sua finalização prevista para 2007, totalizando um ano de duração. No plano conceitual utilizar-se-á da leitura e análise sistematizadas de obras e artigos que tratam da Perspectiva Feminista das Relações Internacionais. Com isso, espera-se conhecer as contribuições que se efetuaram acerca do tema, e proporcionar uma discussão no cerne dessas perspectivas, resultando em um condensamento do referencial teórico na área das relações internacionais. A realização de pesquisa doc umental minuciosa em jornais (da imprensa geral e especializada), revistas, websites^ de governos, organizações internacionais e organizações não-governamentais pretende captar as distintas questões, identificar as formas de abordagem, bem como o mapeamento

das instâncias e níveis de discussões sobre a inserção e participação femininas em questões de política internacional, seja por meio do acesso de mulheres às hierarquias de carreiras políticas e diplomáticas, seja por meio dos movimentos e organizações que trabalham com a questão da mulher. Metodologia:

Este estudo terá como base as perspectivas feministas em Relações Internacionais, no campo da teoria das R.I.. Utilizar-se-á o raciocínio dedutivo como procedimento metodológico que permeará os dois tipos de pesquisa a serem desenvolvidos: a pesquisa bibliográfica, que oferecerá os fundamentos teóricos imprescindíveis ao estudo, e a pesquisa documental, uma vez que é por meio do acompanhamento tanto de periódicos quanto de estudos e estimativas realizadas sobre o assunto é que será possível verificar o que tem ocorrido na prática, utilizando o referencial teórico como embasamento para a análise desse material.

No âmbito teórico a revisão bibliográfica abrangerá bibliografia pública e acessível nos meios acadêmicos. A adoção deste tipo de pesquisa – teórico-bibliográfica – para esta parte da pesquisa se justifica uma vez que a bibliografia pertinente oferecerá não somente meios para a revisão de perspectivas já conhecidas, como também explorar as mais recenteme nte desenvolvidas, que é o caso do tema deste projeto de pesquisa. A análise do posicionamento teórico deverá ser feita por meio de um procedimento técnico de análises textual, temática e interpretativa; a primeira abordagem do texto proporcionando a prepa ração da leitura e a compreensão dos instrumentos de expressão usados pelo autor; em seguida, por meio da análise temática, buscando compreender a mensagem global veiculada para que, a partir desta percepção objetiva, seja possível a adoção de uma atividade de interpretação em que o pesquisador tomará uma posição própria a respeito das idéias enunciadas (análise interpretativa), o que irremediavelmente tornará viabilizada a análise crítica que se almeja. No aspecto da pesquisa empírica a respeito do tema em estudo, utilizar-se-á de um tipo de pesquisa eminentemente documental já que terá por objetos os periódicos, estudos e dados fornecidos por instituições e organizações que trabalhem com o tema. Estes dados serão submetidos a um procedimento metodológico de análise documental, especificado no tópico

externa, busca-se reconhecer o grau de veracidade do documento por meio da análise dos elementos contexto, circunstâncias, autor(es) e repercussão.

Não se pode deixar de considerar as contribuições de Castro Gomes (1979), a saber: o levantamento de dados sempre orientado pelos objetivos de estudo da pesquisa, bem como a reflexão permanente sobre as fontes, a utilização do recurso da produção de “fichas” para a “avaliação” das diversas fontes, com a intenção de melhor manipular os dados coletados, e por fim captar os temas fundamentais, analisando-os de acordo com o referencial teórico e metodológico empregado na pesquisa.

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