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Um estudo exploratório sobre as perspectivas teóricas dos diretores de organizações do terceiro setor em relação a seis principais correntes teóricas do ambiente: ecologia populacional, teoria da contingência, teoria das cinco forças de porter, economia das organizações, visão baseada em recursos e teoria institucional. O artigo identifica e classifica as preferências dos diretores em face dessas teorias.
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Tipologia: Notas de aula
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Perspectivas teóricas do ambiente: que pensam os dirigentes de organizações do Terceiro Setor
Karine Francisconi Augusto Cesar Marins Machado Sergio Filipe Chaerki Universidade Federal do Paraná - UFPR
Um dos grandes desafios das organizações do Terceiro Setor é o desenvolvimento de uma gestão eficiente que leve em consideração os fatores de seu ambiente. Sendo assim, este artigo irá verificar, através de uma pesquisa exploratória do tipo levantamento, o grau de concordância e as preferências dos dirigentes de Organizações Sociais em relação a seis principais correntes teóricas do ambiente: Ecologia Populacional, Teoria da Contingência, Teoria das Cinco Forças de Porter, Economia das Organizações, Visão Baseada em Recursos e Teoria Institucional. Os resultados demonstraram que duas teorias divergentes – Teoria da Contingência e Visão Baseada em Recursos – obtiveram a maior média de concordância, na percepção dos dirigentes. Com referência à preferência dos dirigentes, a classificação final considerou a Teoria Institucional como a perspectiva mais apropriada para análise de Organizações Sociais.
Palavras-chave: Ambiente. Legitimidade. Terceiro Setor.
1. INTRODUÇÃO
Com a redemocratização do país, a partir da década de 1980, o enfraquecimento do Estado interventor foi evidenciado, ocasionando o crescimento da participação e da atuação das Organizações da Sociedade Civil (OSC) (ALVES, 2000; IBGE, 2004; FERNANDES, 1994; FALCONER, 1999). Atividades voluntárias e a criação de Organizações do Terceiro Setor vêm sendo formadas para prestar serviços sociais, promover o desenvolvimento econômico local, impedir a degradação ambiental, defender os direitos civis e procurar realizar inúmeros outros objetivos da sociedade ainda não-atendidos ou deixados sob a responsabilidade do Estado.
Contudo, estas OSCs configuraram-se de diversas formas, muitas até sem nenhuma personalidade jurídica. Diante desta diversidade, devido à sua configuração jurídica, terminologias, formas de atuação e propósitos diversos, estas organizações tornaram-se um campo amplo e rico de investigações (ALVES, 2002; COELHO, 2000; MORRIS, 2000; BRESSER-PEREIRA e GRAU, 1999; FALCONER, 1999; SALAMON, 1997). Contudo, a falta de dados sistematizados, as variações terminológicas, assim como a grande gama de papéis que desempenham, tornam as organizações do Terceiro Setor difíceis de serem identificadas (ALVES, 2002; COELHO, 2000; MORRIS, 2000; FALCONER, 1999; SALAMON, 1997). De acordo com Salamon (1998), sérios problemas de definição conceitual combinam-se com o variado tratamento jurídico que essas organizações recebem nas estruturas legais nacionais. Além disso, barreiras ideológicas também obscurecem a identificação do papel e da escala real do Terceiro Setor.
Outro grande problema enfrentado por essas organizações sem fins lucrativos é a captação de recursos, já que a maioria das necessidades financeiras das OSCs dificilmente é suprida pela colaboração dos doadores que se motivam pela causa da organização. A busca de
patrocinadores e financiadores torna-se relevante e significa a sobrevivência dessas organizações, bem como a possibilidade de uma participação ativa na sociedade (QUANDT e FERNANDES, 2003).
As Organizações Sociais se fazem presentes num contexto crítico de necessidades de recursos físicos, materiais, humanos e financeiros; de melhorias de processos de gestão, com estruturas departamentais coesas e integradas; de programas e projetos concisos e coerentes; de instrumentos e técnicas adequadas; de legitimidade, suporte contextual e prestígio no público atendido; por fim, de institucionalização de práticas e ações.
A partir da percepção dos dirigentes dessas organizações, conforme o contexto crítico supracitado, verifica-se a importância da investigação dos principais fatores intervenientes ambientais, sob a ótica de perspectivas teóricas, que se hão de adequar às organizações do Terceiro Setor, proporcionando uma visão abrangente que questiona o modelo de racionalidade substantiva vigente em tais organizações, ou seja, o conjunto de crenças e valores que transcende ao cálculo.
Embora Falconer (1999), no Brasil, tenha considerado o Terceiro Setor como tema não suficientemente pesquisado, com poucos estudos empíricos abrangentes, e um número insignificante com enfoque organizacional, surgem, recentemente, os primeiros esforços acadêmicos para compreender a temática do Terceiro Setor (FISCHER e MENDONÇA, 2002).
Conforme Fischer e Mendonça (2002), cada vez mais pessoas se interessam pelo setor e se dedicam a estudar o assunto e a trabalhar nessas organizações. Com isto, algumas informações e conhecimentos estão sendo produzidos a este respeito, mas com iniciativas isoladas e divergentes. Há falta de convergência de atividades, assim como de integração entre pesquisadores, estudiosos e militantes, além de pouca divulgação dos trabalhos acadêmicos.
Cunha (2002) enfatiza que as organizações estão insertas em um ambiente que exerce influência constante sobre elas; portanto torna-se necessário o aprofundamento da questão ambiental no cerne das pesquisas organizacionais brasileiras. A percepção do ambiente influencia, de forma muito intensa, o funcionamento das organizações do Terceiro Setor, assim como o seu resultado. Mesmo com propósito social, elas necessitam da lógica de mercado fundamentada na racionalidade instrumental, ou seja, na captação de recursos tanto materiais quanto intelectuais, de uma boa gestão e de se enquadrar na legislação vigente para sobreviver.
Segundo Wright et al. (2000), as Organizações Sociais, presentes no Terceiro Setor, podem se beneficiar de forma significativa dos conceitos referentes ao ambiente, analisando suas oportunidades e ameaças, e desenvolvendo programas e projetos condizentes com as necessidades da sociedade. Em consonância com o propósito deste estudo, verifica-se que os principais problemas que afetam as organizações insertas no Terceiro Setor, com os diagnósticos de alguns autores, envolvem aspectos ligados ao universo da relação organização e ambiente.
Dependendo da forma como os dirigentes das Organizações Sociais interpretam a realidade social em que se inserem, será o modo como eles agirão em face das demandas do ambiente. A realidade destas organizações é intersubjetiva, ou seja, socialmente construída, e ao mesmo tempo que os indivíduos apreendem esta realidade, também a produzem (BERGER e LUCKMANN, 2004).
As perspectivas teóricas abordadas neste trabalho têm suas peculiaridades, mas é possível separá-las em dois grandes grupos: o das perspectivas deterministas, em que o
deve adequar-se às demandas ambientais. Dentro dessa relação funcional, os fatores ambientais são variáveis independentes, enquanto as técnicas administrativas são variáveis dependentes. Em vez de uma relação de causa e efeito entre as variáveis do ambiente e as variáveis administrativas, existe uma relação funcional entre elas do tipo "se-então" que pode levar a um alcance eficaz dos objetivos almejados.
Para interagir de modo eficaz com o ambiente, as organizações têm de estruturar unidades segmentadas e cada uma delas lidar com algum aspecto das condições externas à empresa, isto é, diferenciação de tarefas. Contudo a organização, como sistema coordenado e inter-relacionado, precisa da colaboração de todos os seus membros para atingir seus objetivos, isto é, de integração. Diferenciação e integração são indispensáveis para um desempenho eficaz no ambiente externo. Sob diferentes condições ambientais, podem-se exigir diversas características organizacionais e padrões de comportamento no interior da empresa, ou seja, diferentes estados de diferenciação e integração (LAWRENCE e LORSCH, 1973). Assim, a organização ótima é aquela contingente aos fatores que a cercam (DONALDSON, 1999).
A teoria da contingência é determinista no sentido de que a contingência determina a estrutura, uma vez que a maioria das organizações, sob esta perspectiva, se ajustam ao ambiente, adaptando a estrutura à estratégia da organização (DONALDSON, 1999).
2.3. MODELO DAS CINCO FORÇAS DE PORTER
Para Porter (1986), a estratégia competitiva seria o exame do modo como uma empresa pode competir com maior eficácia para fortalecer sua posição no mercado. A organização, a partir dessa concepção, busca conectar fins (posição da empresa no mercado) a meios (elementos que possibilitam a obtenção dessa posição).
O parâmetro para criação de posição defensável (estável), e para criação da estratégia competitiva genérica (liderança de custo, diferenciação e enfoque), provém de cinco forças competitivas: ameaça de produtos substitutos; novos entrantes; poder de negociação dos clientes; poder de negociação dos fornecedores; e rivalidade entre empresas existentes.
A ameaça de produtos substitutos provém do desempenho do preço relativo dos substitutos, dos custos de mudança e da propensão do comprador a substituir. A ameaça de novos entrantes coloca um limite nos preços e modula o investimento exigido para deter essa entrada. O poder de negociação dos clientes influencia os preços que as empresas podem cobrar, assim como o custo e o investimento, porque os compradores poderosos exigem serviços dispendiosos. O poder de negociação dos fornecedores determina os custos das matérias-primas e de outros insumos. A rivalidade entre as empresas existentes influencia os preços assim como os custos da concorrência. Esta rivalidade é conseqüência de alguns fatores, dentre outros: crescimento da indústria ou setor; expectativa de rentabilidade, o que acaba por atrair mais empresas; existência de custos fixos distintos entre as empresas; diferença entre produtos existentes; identidade de marcas; diversidade de concorrentes; e barreiras de saída, ou seja, dificuldades em abandonar determinado setor, devido ao montante de investimentos já realizado e de difícil recuperação, em caso de efetiva saída.
2.4. ECONOMIA DAS ORGANIZAÇÕES
Esta abordagem tem dois aspectos em comum com outras formas de pensar sobre a análise organizacional: (1) interesse na estrutura, no funcionamento e nas conseqüências para as organizações; e (2) interesse na relação entre competição e organizações (BARNEY e HESTERLY, 2004).
No mesmo estudo, os autores expõem que esses dois aspectos geram na literatura acadêmica quatro correntes centrais, cada uma com um foco de questão de pesquisa, relacionadas em função de um tema específico. A primeira é a Teoria dos Custos de Transação, que leva em consideração o porquê das organizações existirem; em seguida, a Teoria da Agência, que estuda se os atores envolvidos concordam como uma organização deve ser gerenciada; a terceira teoria é a das Formas de Cooperação, que se preocupa em como as organizações devem cooperar; e por fim, a quarta teoria é a Administração Estratégica, que tem como foco o porquê de algumas organizações superarem as outras.
2.5. VISÃO BASEADA EM RECURSOS (VBR)
Wernerfelt (1984) considera que a organização é um amplo conjunto de recursos: marcas, tecnologias, práticas eficientes e capital. Apresenta ainda como recursos potenciais: capacidade instalada, fidelidade do consumidor, curva de experiência e a liderança em tecnologia. Tais recursos e produtos são indissociáveis, além de criarem barreiras de posição. As organizações conseguem uma vantagem competitiva ao adquirirem ou desenvolverem recursos superiores ou uma combinação de recursos superiores.
Outra importante contribuição para esta perspectiva teórica foi fornecida por Barney (1991), e Prahalad e Hamel (1995). De acordo com Barney (1991), os recursos podem oferecer vantagem competitiva sustentada, sendo considerados valiosos, raros e difíceis de serem imitados e substituídos. A maneira como a empresa desenvolve internamente seus recursos irá afetar seu desempenho. Por sua vez, Prahalad e Hamel (1995) propõem uma visão orientada no processo da aquisição, manutenção e utilização de competências como forma de obtenção de vantagem competitiva.
Nessa perspectiva, a formulação de uma estratégia tem como objetivo criar novos espaços concorrenciais através da perseguição de uma visão ambiciosa de longo prazo desenvolvida com base nas competências centrais da organização. Aqui, a melhor defesa passa a ser o ataque. A estratégia organizacional não busca adaptar-se às condições da concorrência, mas transforma uma condição em nova possibilidade: uma mudança de posição (PRAHALAD e HAMEL, 1995).
2.6. TEORIA INSTITUCIONAL
Esta teoria distingue amplamente entre aspectos institucionais e recursos materiais do ambiente. O ambiente institucional inclui os fatores simbólicos e culturais que afetam as organizações; por sua vez, o ambiente técnico envolve os aspectos materialistas, baseados nos recursos (SCOTT, 2003).
O ambiente técnico é aquele cuja dinâmica de funcionamento se desencadeia por meio da troca de bens ou serviços, de modo que as organizações que neles se incluem são avaliadas pelo processamento tecnicamente eficiente do trabalho. Logo, o controle ambiental é exercido sobre os resultados em termos de quantidade e qualidade, modelando as organizações por meio de um isomorfismo competitivo (DIMAGGIO e POWELL, 1983; SCOTT e MEYER, 1992; MACHADO-DA-SILVA e FONSECA, 1999).
Entretanto esta teoria se interessa mais com a legitimidade do que com a eficiência em si. Portanto, se volta para o ambiente institucional, para a realidade socialmente construída em que as organizações estão insertas (ORRÙ, BIGGART e HAMILTON, 1991). Os elementos que dão suporte a esta perspectiva são os aspectos reguladores, normativos e cognitivo- culturais (SCOTT, 2001).
O ambiente institucional caracteriza-se pela elaboração e difusão de regras e
extraem a essência de cada uma delas, classificando de 1 a 6, onde “um” significa maior concordância, e “seis” maior discordância. Após a tabulação, a classificação foi convertida em pontos, conforme Quadro 1:
Quadro 1. Conceitos e pontos. Conceitos Pontos 1 6 2 4 3 2 4 0 5 0 6 0
O objetivo dessa distribuição de pontos foi privilegiar as três questões escolhidas como as mais próximas das Organizações Sociais e desconsiderar as três últimas colocadas. O que se busca é distinguir, de forma clara, as abordagens do ambiente que, na percepção dos dirigentes das OSCs, são as mais aceitas, em face daquelas com menor nível de concordância.
4. RESULTADOS E ANÁLISE DA PESQUISA
4.1. NÍVEL DE CONCORDÂNCIA
A média geral das abordagens recebidas pelas seis teorias sobre ambiente foi 2,72. A escala de resposta foi distribuída em 4 níveis.
1 – Discordo totalmente; 2 – Discordo; 3 – Concordo; 4 – Concordo totalmente. Ao se calcular o coeficiente de variação, a Ecologia Populacional é a abordagem que apresenta maior porcentagem, 75%, o que representa a teoria com maior variabilidade entre as respostas obtidas. A Teoria Institucional é a que apresenta maior homogeneidade entre as respostas, com um coeficiente de variação igual a 38%, embora estatisticamente ainda considerado de alta dispersão; para o presente estudo, este resultado é considerado satisfatório.
Analisando as médias individualmente, verifica-se que a Ecologia Populacional apresenta a menor média, 2,01. Há uma concordância entre as abordagens da Teoria da Contingência e Visão Baseada em Recursos, que ficaram com média 3,04 cada uma. Porém, de forma geral, não há concordância entre as abordagens sobre ambiente.
No Gráfico 1, é possível verificar a distribuição das médias de cada uma das seis abordagens sobre ambiente.
Nível de Concordância com as Abordagens do Ambiente Média de Pontos (escala de 1 a 4)
2,
3,04 (^) 2, 2, 3,04 (^) 2,
1
2
3
4
Ecologia Teoria da Teoria das Cinco Economia das Visão Baseada em Teoria Institucional
Gráfico 1. Nível de concordância entre as abordagens do ambiente. Levando em consideração o cálculo do desvio padrão, verifica-se a Teoria das Cinco Forças de Porter e a Ecologia Populacional como as abordagens que apresentam os valores mais elevados: 1,58 e 1,51 respectivamente, o que representa as teorias que mais se afastam da média geral. A abordagem que mais se aproxima da média geral é a Teoria Institucional que apresenta um desvio padrão de 1,11.
4.2. PREFERÊNCIAS DAS HIERARQUIAS SOBRE AS ABORDAGENS DO AMBIENTE
Definido o nível de concordância das hierarquias em relação às seis abordagens do ambiente, o passo seguinte é definir qual é, na percepção dos dirigentes, a teoria que mais se pode adequar às Organizações Sociais.
A metodologia de tabulação estabelecida para esta pesquisa, credita pontos de acordo com a classificação que cada respondente dá a uma abordagem do ambiente, conforme Quadro 1. A primeira colocada recebe 6 pontos, a segunda colocada 4 pontos, e a terceira colocada 2 pontos; as posicionadas entre a quarta e a sexta posição não recebem pontos. Esta metodologia visa valorizar as abordagens do ambiente que são indicadas como as mais próximas das Organizações Sociais.
Através do Gráfico 2, verifica-se que a Teoria Institucional é a mais forte, recebendo 32,33% dos pontos, seguida pela Economia das Organizações – 20,67%, Teoria da Contingência – 19%, Teoria das Cinco Forças de Porter – 11%, Visão Baseada em Recursos 10,67% e Ecologia Populacional – 5,33%.
Força das Abordagens do Ambiente
Visão Baseada em Recursos
Teoria Institucional
Economia das Organizações (^) Cinco Forças de Porter
Teoria da Contingência
Ecologia Populacional
Gráfico 2. Força das abordagens do ambiente. A seguir será analisada a perspectiva da Teoria Institucional, escolhida em primeiro lugar na pesquisa junto aos dirigentes das Organizações Sociais.
4.3. ANÁLISE DA TEORIA INSTITUCIONAL
Embora contribuições ao pensamento institucional remontem ao século dezenove (SCOTT, 2001), a Teoria Institucional é uma abordagem relativamente recente no meio
regras e procedimentos que proporcionam às organizações legitimidade e suporte contextual. A legitimidade é aspecto fundamental desta abordagem; ela é socialmente construída no que reflete a congruência entre os comportamentos da ação legitimada e as crenças compartilhadas de algum grupo social. Pode-se dizer que uma ação possui legitimidade, quando um grupo como um todo aceita e sustenta um comportamento como sendo padrão. Neste sentido, institucionalização é um processo social, cujos atores entendem o processo pelo qual as ações se tornam habituais e ganham significado compartilhado intersubjetivamente. Logo, instituições, por definição, são as características mais sólidas de uma sociedade, ou então os aspectos mais duradouros da vida social, que se dão através da espaciotemporalidade. As instituições têm alto grau de estabilidade e funcionam como mecanismo de continuidade social. As organizações procuram legitimidade por muitas razões, entre elas estabilidade e compreensão das atividades da organização. A persistência de práticas faz com que as organizações tenham melhor acesso a recursos, por demonstrarem ser confiáveis, adequadas ou apropriadas e significantes. Além disso, organizações legitimadas requerem menos investimentos na mobilização do público. Uma segunda razão pela qual as organizações procuram por legitimidade, é pelo fato de esta dar suporte ativo, e não simplesmente conformidade passiva em face das pressões ambientais, propondo o seguinte: quem difunde valores na sociedade tende a crescer mais. Em suma, uma organização precisa “fazer sentido”. Contudo, para mobilizar comprometimentos positivos, também é preciso “ter valor”, mesmo que substantivamente, para se proteger contra ameaças. Isso tudo implica legitimidade. Nas organizações pesquisadas, os dirigentes demonstraram preocupação tanto com as pressões externas quanto com as capacidades internas da organização, respectivamente: Teoria da Contingência e Visão Baseada em Recursos. O fato de essas duas abordagens divergentes obterem as maiores médias, conforme Gráfico 1, reforça o resultado da Abordagem Institucional como predominante na percepção dos dirigentes, conforme Gráfico 2, pois esta abordagem defende a idéia de que tanto a ação afeta a estrutura como a estrutura afeta a ação, dando a idéia de um processo sistêmico-processual recorrente, conforme Figura
Figura 1. Estruturação ambiental. Numa visão categorizadora, é possível colocar a Teoria da Ecologia Populacional em um extremo determinista, cuja relação entre organização e ambiente, é este que tem o poder e determina as ações das organizações. Já no pólo voluntarista o ambiente continua interferindo, mas as organizações agem de acordo com a sua interpretação e suas capacidades tanto
Ecologia Populacional
Teoria da Contingência
Teoria das Cinco Forças de Porter
Economia das Organizações
Visão Baseada em Recursos
DETERMINISMO (ESTRUTURA)
VOLUNTARISMO (AÇÃO)
Teoria Institucional
materiais quanto intelectuais.
A Teoria Institucional situa-se em posição intermediária em um continuum entre as orientações determinista e voluntarista da ação organizacional, cuja estrutura afeta a ação, e cuja ação afeta a estrutura.
Faz-se necessário adotar uma abordagem recursiva do processo, pois as atividades sociais humanas são recursivas, ou seja, elas não são criadas por atores sociais mas continuamente recriadas por eles através dos próprios meios pelos quais eles se expressam como atores. Nesse sentido, práticas sociais são ações regularizadas e recorrentes de atores sociais que continuamente constroem e reconstroem um sistema social espaciotemporalmente delimitado. Sistema social são as “relações reproduzidas entre atores ou coletividades, organizadas como práticas sociais regulares” (GIDDENS, 2003, p. 29; MACHADO-DA- SILVA, FONSECA, CRUBELLATE, 2005).
Pode-se dizer que a Teoria Institucional é uma abordagem intersubjetiva, uma vez que se refere ao compartilhamento de significados atribuídos por atores individuais em cada situação social específica.
5. CONCLUSÃO
Quanto ao mapeamento da percepção dos dirigentes com relação às perspectivas teóricas, os resultados mostraram que há um grau de concordância entre as Teorias da Contingência e Visão Baseada em Recursos, o que demonstra preocupação tanto com as pressões externas quanto com as capacidades internas da organização. Contudo, esta preocupação é suprida por uma única abordagem, a Teoria Institucional, destacada como a abordagem mais apropriada para a análise das Organizações Sociais, na percepção dos dirigentes.
A partir deste mapeamento, é possível identificar linhas de ação nas Organizações Sociais que possam potenciar os esforços dos dirigentes na busca de recursos, melhorias de processos de gestão e legitimidade, bem como identificar possíveis deficiências ou pontos fracos que precisam ser reforçados ou estimulados no processo de interação com o ambiente.
Embora, a exposição da Teoria Institucional fique restrita àquilo que interessa à problemática deste trabalho, ou seja, relação entre organização e ambiente, esta teoria apresenta uma útil perspectiva que possibilita diversas outras análises em pesquisas futuras, mais abrangentes, que podem envolver: a importância das instituições para a sociedade; a configuração intersubjetiva da realidade; a rejeição de explicações puramente individuais ou estruturais; a centralidade dos conceitos de interpretação e legitimação; o caráter rotineiro das práticas sociais; a aceitação da formulação da racionalidade limitada; a visão cultural baseada na cognição; e padrões de comportamento, de normas e de valores, crenças e de pressupostos, em que se encontram imersos indivíduos, grupos e organizações.
6. REFERÊNCIAS
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