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Esta tese investiga a possível relação entre a aquisição de uma língua e o desenvolvimento de habilidades superiores, tomando como eixo as propriedades representacionalidade e recursividade das línguas humanas. O documento discute a importância da língua como instrumento da cognição e explora como ela pode influenciar o desenvolvimento de habilidades relacionadas à cognição numérica e à teoria da mente. Além disso, o texto apresenta uma revisão da literatura sobre o tema e apresenta uma hipótese de trabalho para a pesquisa.
Tipologia: Resumos
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Esta tese investiga a possível relação existente entre dois aspectos tidos como centrais na cognição humana: a capacidade de qualquer criança – sem impedimentos de ordem neurológica ou social^1 – adquirir uma língua e a possibilidade de habilidades superiores serem desenvolvidas. Especificamente, no que diz respeito às habilidades superiores, neste trabalho são focalizadas as habilidades numéricas dependentes do cálculo com quantidades exatas e a habilidade de integrar informações provenientes de diferentes domínios cognitivos. Esse tópico é explorado tomando como eixo duas propriedades centrais das línguas humanas: a representacionalidade e a recursividade. Ambas estão diretamente vinculadas a dois fatos fundamentais nas línguas: serem sistemas de natureza representacional – dado que incluem um léxico – e incorporarem um sistema computacional que opera com base nos traços formais codificados no léxico. Língua e cognição podem ser vistos como conceitos estreitamente relacionados. A cognição – caracterizada como atividade mental – diz respeito à aquisição, armazenamento, transformação e aplicação de conhecimento (Matlin, 2004). Esse conhecimento pode ser definido como o produto mental da interação do indivíduo – munido do aparato cognitivo que lhe permite interagir com o mundo – com o meio físico e social. A língua, por sua vez, apresenta-se como uma forma de conhecimento decorrente da interação entre um indivíduo dotado de uma faculdade de linguagem e um meio social. O conhecimento da língua pode, contudo, ser concebido também como instrumento da cognição, uma vez que a língua permite que se produza e que se compreenda um número infinito de enunciados que veiculam informação nova. Considera-se ainda que a língua, como parte do aparato com o qual o indivíduo interage com o mundo, pode influenciar o modo como sua experiência é
(^1) A expressão “impedimento de ordem social” utilizada refere-se ao convívio e interação social mínimos, necessários para a aquisição de uma língua natural. A privação de estímulo lingüístico durante o período crítico impede o correto e completo desenvolvimento lingüístico, tal como atestado no caso de Genie (cf. Curtis, 1977) e outros relatos de “meninos lobos” (cf. Newton, 2002).
apreendida como conhecimento. O conhecimento lingüístico pode vir assim a contribuir para o desenvolvimento de processos cognitivos avançados, embora como isso aconteceria exatamente é uma questão que ainda precisa ser esclarecida. Desenvolvimentos vinculados à cognição numérica estão na base de conquistas únicas da espécie humana nos âmbitos das ciências, da arquitetura e da engenharia, dentre outros (Uller, 2008). Certas habilidades associadas a esse domínio são, entretanto, atestadas também em primatas não humanos e ainda em espécies aparentemente distantes no caminho da evolução. A capacidade de discriminar quantidades aproximadas e pequenas quantidades exatas sob certos contextos específicos^2 , assim como a compreensão de aspectos vinculados à Teoria da Mente^3 , são exemplos de algumas habilidades que parecem ser compartilhadas entre espécies (Uller, 1997; Krusche et al., 2010; Uller & Lewis, 2009; Uller et al., 2003; Uller, 2004; Bergman et al., 2003; dentre outros). Onde reside então a diferença entre humanos e outras espécies? Representa a língua o diferencial necessário para dar o salto que nos separa de outros animais? E se isto é assim: como? Em que medida?
Língua e habilidades superiores A possibilidade de que a posse de uma língua seja um fator crucial no desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores – como no caso daquelas associadas à cognição numérica – foi considerada explicitamente por Vygotsky, no começo do século XX. Vygotsky definia as funções mentais superiores como sendo produto de atividade mediada, isto é, realizada por meio do que denominou ferramentas mentais ( psychological tools ) (Vygotsky, 1986).
(^2) Cf. Uller & Lewis (2009) e para uma breve revisão dos estudos sobre a cognição em primatas não-humanos e outras espécies. (^3) A Teoria da Mente pode ser definida de forma muito sintética como a capacidade que permite ao indivíduo atribuir aos outros estados mentais (pensamentos, sentimentos, desejos, crenças e intenções) diferentes dos seus próprios e com isso prever ou explicar suas ações (Premack & Woodruff, 1978).
relacionados à linguagem 5 e o próprio sistema da língua em uma posição teórica de relevância, fato que abre as perspectivas para novos espaços de pesquisa. O estudo da língua como instrumento de aquisição de conhecimento e de desenvolvimento de funções cognitivas superiores é um dos tópicos que pode ser rediscutido em virtude dos postulados minimalistas. No âmbito da Psicologia cognitiva, Elizabeth Spelke (1992/2010) vem desenvolvendo um conjunto de pesquisas orientadas pela hipótese de que a cognição humana estaria conformada por um conjunto de “sistemas nucleares” – alicerces cognitivos que emergem muito cedo na ontogenia e na filogenia. Num desdobramento dessas investigações, Spelke tem levantado a possibilidade de que a posse de língua seja o fator determinante para o ser humano ir além dos sistemas nucleares, viabilizando a construção de um tipo de conhecimento mais sofisticado e complexo. A hipótese de que a posse de língua e o conhecimento do número são as duas capacidades que distinguem crucialmente a cognição humana da de outras espécies tem ganhado progressivamente espaço na literatura (Corver et al., 2007; Devlin, 2003; dentre outros). Freqüentemente tem sido salientado que tanto a língua quanto o sistema numérico compartilham a propriedade da infinitude discreta (Chomsky, 1998; Hauser et al., 2002; Corver et al., 2007, dentre outros). Em outras palavras, assim como séries de números podem ser infinitamente continuadas – já que sempre é possível acrescentar mais um – também é possível construir novas estruturas sintáticas adicionando material lingüístico a uma estrutura dada (Hauser et al., 2002). Grosso modo , a propriedade da infinitude discreta dá conta do fato de que não há limites a priori para o número de elementos que uma sentença da língua ou uma seqüência numérica pode conter. Mas afinal, seria a língua a chave para a construção do conceito de número nos seres humanos? Em que medida e sob quais aspectos? Pesquisas no âmbito da Psicologia Cognitiva têm trazido resultados compatíveis com a hipótese de que a língua teria um papel no desempenho de tarefas
(^5) O termo “linguagem” é utilizado aqui com o sentido de capacidade ou forma de conhecimento vista independentemente da forma específica de uma dada língua.
relacionadas a diferentes aspectos da cognição, incluindo: resolução de problemas, cálculo e codificação de numerosidades exatas, localização espacial, Teoria da Mente (doravante ToM) e, de um modo geral, na integração de informações provenientes de diversos domínios cognitivos (Baldo et al., 2005; Delazer, 1999; Spelke & Tsivkin, 2001b; Hermer-Vazquez et al., 1999; Hollebrandse et al., 2008). Todavia, não existem estudos que, assumindo abertamente uma teoria lingüística, busquem explicitar quais seriam as propriedades das línguas humanas que possibilitariam tais relações. Também não é claro até o momento se a possível influência da língua em outros domínios ficaria restrita ao desenvolvimento de certas habilidades nas crianças ou se continuaria em alguma medida operante na cognição adulta. No que diz respeito à base teórica desta investigação, buscamos articular uma teoria psicolingüística da aquisição e do processamento da linguagem (Corrêa, 2009a, 2009b, 2007; Corrêa & Augusto, 2006, 2007) e um modelo formal de língua, especificamente o sugerido pelo quadro do PM (Chomsky, 1995-2007). Adotamos ainda a proposta de Spelke (Spelke, 1994, 2000, 2003, dentre outros) com relação ao papel da língua no desenvolvimento da cognição superior, segundo a qual a língua poderia fornecer o suporte necessário para a combinação de informação advinda de diferentes sistemas de representação vinculados a vários domínios cognitivos. O termo representação é utilizado no âmbito das Ciências Cognitivas ao se considerar o processamento da informação (por exemplo, no que diz respeito ao processamento lingüístico ou visual) e faz referência, especificamente, a representações mentais. Corrêa (em preparação) chama atenção para o fato de que as representações podem ser tomadas como equivalentes a símbolos em uma máquina de Turing (cf. pp. 76-77 desta tese) e são o resultado da transformação ou processamento de dados-de-entrada_._ Os novos símbolos obtidos nesse processo servem de input para etapas posteriores dos processos mentais. A idéia de que o pensamento pode ser entendido em termos de estruturas representacionais e procedimentos computacionais que operam sobre essas estruturas é uma hipótese central nas ciências cognitivas. Embora existam discrepâncias importantes no que diz respeito à natureza das representações e computações que constituem o pensamento, a hipótese central é geral o suficiente como para englobar
experimentais, ainda que gerem contextos artificiais para o estudo da aquisição e o processamento da linguagem, permitem o controle de variáveis que possam afetar o fenômeno investigado, de modo a verificar o efeito de uma ou mais variáveis selecionadas, considerado independentemente do efeito das demais ou em interação entre si. Pelo fato de a pesquisa ter incluído tanto crianças quanto adultos, a metodologia utilizada foi bastante variada. As técnicas empregadas são detalhadas no começo das seções correspondentes. Com base no anteriormente exposto, podemos concluir que o presente trabalho abrange questões relativas ao modo como o sistema da língua interage com outros domínios cognitivos, contribuindo para a discussão sobre o que há de especificamente lingüístico na língua (remetemos ao debate entre Hauser, Chomsky & Fitch, 2002, Fitch, Chomsky & Hauser 2005; Pinker & Jackendorff, 2005 e Jackendoff & Pinker, 2005) e sobre o papel da língua no desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores.
1. Objetivos De um ponto de vista teórico, este estudo visa a explicitar quais os aspectos das línguas humanas que permitem justificar um possível papel da posse de uma língua no desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores. É considerado ainda em que medida essa influência pode ser exercida em função de recursos computacionais compartilhados. Os objetivos gerais desta pesquisa são os seguintes:
1. Hipótese de trabalho A hipótese de trabalho que orienta esta pesquisa é a de que o papel da língua no desenvolvimento de habilidades superiores se vincula diretamente a duas propriedades cruciais: a representacionalidade – no caso da cognição numérica, especificamente o fato de a língua poder vir a fornecer uma representação para quantidades exatas no que se refere à numerosidade – e a recursividade.
1.4. Justificativa da proposta O projeto de pesquisa aqui desenvolvido se justifica pela atualidade dos
de recursividade tal como apresentada na Teoria Lingüística e discute a possibilidade de haver uma acepção inter-domínios da mesma. Os capítulos 5, 6 e 7 trazem os resultados dos experimentos conduzidos e vinculados a questões relativas a representacionalidade, recursividade e ao papel da língua na cognição madura, respectivamente. Por último, o capítulo 8 recapitula os objetivos propostos e apresenta as considerações finais do trabalho.